A netfobia faz vítimas até entre os experts em tecnologia.

Sob o título de “A disrupção tem impacto negativo na sociedade”, o FUTURISTA Rudy De Waele, escreve e se inspira no sensacional desenho da Pixar (Wall-E) para ilustrar uma sociedade onde seres humanos ‘’supergordos’’ não saem das telas dos seus gadgets e mal conseguem se movimentar. São como gansos condenados para a produção do famoso patê de fígado da ave, o foie gras. Isto sim é um absurdo, que a ciência e a filosofia deveriam rever!

Em sua versão particularmente catastrófica, os recursos naturais serão esgotados e tudo isso ocorrerá porque tudo pode ser acionado por botões, leitura de retina e calor humano. E assim o ecossistema vigente será letárgico e não mais favorável à vida. Ele diz:

“Tudo o que criamos na sociedade industrial não funciona mais”, e De Waele continua: “-Precisamos pensar profundamente no futuro que queremos criar.”

Este é posicionamento que costumo encontrar nos netfóbicos mais tradicionais em nossas entrevistas. Porém quando ouço este tipo de “defesa ou desculpa” vinda de um cientista, filósofo e pesquisador fico me perguntando: que tipo de serviço ele está, de fato, prestando à sociedade?

É culpa da tecnologia…vou pedir um Uber!

A sociedade americana, por exemplo, já é obesa desde os anos 50. Como podemos culpar a tecnologia hoje? É como crucificar o bacon ou o porco por isso! Em tempo, somente com o advento da tecnologia é que foi possível a transformação do agrobusiness, por exemplo. Porque foi ele que instalou um manejo mais sustentável e de respeito à terra, melhorou a logística na distribuição global de alimentos, proporcionou a diminuição do trabalho sobre-humano dos agricultores, aperfeiçoou a genética dos alimentos e etc. Isto sem contar a evolução nos tratamentos contra a obesidade! Culpar a tecnologia, só nos atrasa ainda mais na busca por uma qualidade de vida mais equilibrada com o nosso universo. Com o nosso tempo.

“Temos de transformar essa sociedade movida a dopamina para uma sociedade movida a serotonina”. Ou seja, “Para criarmos um futuro mais saudável, precisamos de mais sociedades guiadas por serotonina.”, afirmou.

Cena do filme Wall-e, dos estúdios Pixar, inspira o futurista De Waele em evento da IBM no Brasil.

E se essas sociedades fossem estimuladas a ponto de se moverem apenas pela capacidade de pensar e raciocinar? A obterem noções de aprendizagem analítica e não a acreditar que são submetidas a doses involuntárias de química em seu organismo? Essas as quais nem Elas e nem a ciência podem evitar…apenas se conscientizar e administrar?

O conhecimento humano

Todos sabemos que temos remédios e a medicina para este controle. Nós demoramos quase um século, por exemplo, para acabar com a discriminação da inteligência humana com a tal métrica do Q.I. e só agora passamos a respeitar a individualidade e o conhecimento empírico das pessoas. Será mesmo que a tecnologia está nos transformando em ‘’gansos’’ ou é a educação que fracassou em seu papel fundamental? Pepel no qual é de fomentar as crianças em cada vez mais buscar, competir honestamente e vencer através da meritocracia?

Acabou a disrupção?

Convidado para palestrar em São Paulo, no evento IBM Cloud Discovery, em sua primeira visita ao Brasil – um dos planetas que De Waele, certamente não conhece a realidade – continuou com sua linha de pensamento e também abordou de maneira crítica, algo inevitável na era digital: o conceito de disrupção inovativa.

“A disrupção foi a palavra da moda dos últimos 10 anos, mas não é mais”, disse o futurista. “Temos visto que a disrupção causa impacto negativo na sociedade, como no caso do Facebook e Cambridge Analytica ou com o Uber e o AirbnB em muitas cidades em que as pessoas não os estão aceitando.”

Eu trabalho com empreendedorismo e tecnologia há algum tempo. Eu não vejo pessoas e consumidores reclamando de Uber e Airbnb, exceto por pontuações de atendimento, como, aliás, ocorriam em índice muito maiores em qualquer segmento na era analógica. O público que rivaliza com estas ações disruptivas são os netfóbicos, políticos e empresários que estão sendo obrigados a sair de suas zonas de conforto para poder sobreviver a estas mudanças.

Pode ser uma hipocrisia.

Embora o poder financeiro de unicórnios como Google, Facebook, e Amazon sejam realmente absurdos, ninguém reclama dos lucros bilionários dos Bancos. Ou por exemplo, das petrolíferas, das seguradoras globais irresponsáveis que quase quebraram o mundo, e por aí vai. Isto me parece netfobia no seu mais puro e concentrado estado. Ou quem sabe, hipocrisia. Falta de conhecimento.

Ferrér brinca no Photoshop; Só na arte e na religião são permitidas ‘’ignorâncias’’ (com ressalvas).

Em tempo, concordo que há monopólios e que estas empresas devem pagar mais impostos. Assim como ajudar mais (sobretudo) na educação, saúde, na erradicação da pobreza e em diversas outras áreas. Mas isso não exime a responsabilidade social de outros setores (sejam analógicos, informatizados ou digitais). Pouco tempo atrás, empresas inseridas na era da Transformação Digital mas de espírito ainda analógicos, como a Volkswagen, Renault, Suzuki e Nissan (foram 16 no total) burlaram seus sistemas digitais. Lembra do episódio conhecido como recall-branco? Que para manipular a sociedade com dados que diminuíam a verdade sobre a emissão de poluentes em seus veículos para combater o avanço dos carros elétricos, ironicamente melhores para o FUTURO da humanidade.

Vamos ouvir?

De certo que temos de ser pluralistas e ouvir todas as opiniões.  Mas como organizador de eventos vejo também que houve um ato falho da IBM. Ela mesmo se tornou um case no mercado de tecnologia, após ter tomado – nos anos 70 – um bypass dos nerds Bill Gates e do recém falecido Paul Allen. A companhia, aprendeu com a lição, se reergueu e hoje desenvolve disrupturas inovativas em escala. Como aquela que abalou suas estruturas com a chegada da Microsoft. É um exemplo.

Então, não há sentido em renegar seu próprio currículo de transformação e fomentar o clima de ‘’fim do mundo’’ devido ao advento da tecnologia. Esta visão tacanha do velho mundo, vinda de quem quer que seja – um aborígene australiano ou um cientista da NASA.  São visões que não nos ajuda e só é permitida – com ressalvas – de maneira compreensiva, pelas novas gerações na religião ou no cinema como no filme da Pixar. O resto é ficção.